domingo, 18 de janeiro de 2015

Amigos que vem e que vão.


Na humilde opinião desse simples mortal que vos fala, no quesito vida a bordo podemos dizer que o dinheiro é sim muito bom e que todos os lugares que conhecemos ao redor do mundo são dádivas maravilhosas na nossa vida, mas existe uma coisa muito mais incrível nessas histórias vividas durante meses e meses: Os Amigos.
Cada contrato que você começa, faz inúmeras amizades e elas fazem toda e qualquer diferença na luta diária que é o seu contrato.
No meu primeiro contrato, por trabalhar para a tripulação, fui obrigado (e não reclamo) de conhecer o navio inteiro, e consecutivamente, criar amizades que levarei pra sempre.
Tudo é intenso, como sempre é mencionado quando se fala de vida a bordo: Amizades, amores, perdas, sofrimentos...
Lembro até hoje, que nos vários amigos que fiz na Ibero, em um dos meus momentos de loucura e saco cheio, quis desistir de tudo e largar aquela vida. Tentaram então me convencer que eu tinha mais a conquistar e entre todos os que tentaram, lembro que depois de ouvir as palavras do Fabiano e da Mylenna, decidi ficar e continuar até onde desse... no próximo porto de embarque, ele desembarcou porque sua filha estava doente e ela foi de transfer para o Holiday ficar com a irmã.
Chorei como uma criança naquela gangway e fiquei realmente sem chão, afinal, os alicerces que me fizeram mudar de ideia estavam indo embora, e então ouvi alguém me dizer que aquilo seria normal e que as idas e vindas eram constantes e que nada e nem ninguém iria mudar aquilo, que poderiamos nos encontrar novamente pelo mundo ou nunca mais nos vermos...
Me desculpe quem me disse isso, mas pelo contrário, falo sempre com meus amigos queridos e fico feliz com cada conquista deles: Fabiano hoje trabalha próximo do porto e infelizmente não tive a oportunidade de revê-lo, mas o farei no próximo Rio que pararmos, e a My, bom... Essa eu acompanho todo o processo de vida rs, a tentativa de mudança de companhia, a gestação, a Olivia linda, o romance, o namoro, o casamento e hoje mais um baby lindo!
Bom, posso dizer com isso, que os amigos criados a bordo, são amigos mesmo.
Muita gente usa no dia a dia a classificação de amigo e colega para diferenciar aquele que você conta seus segredos e aqueles quais você só convive. Quando você está a bordo, você confia neles, pode ter certeza! Quando uma amizade é uma amizade, ela é aquilo e fim.
Acho incrível reencontrar as pessoas por ai e sentir toda aquela energia boa de volta. 
Encontrei a Karine em Santos depois de muito tempo, quando não nos despedimos no dia do meu desembarque em maio de 2012 e só nos encontramos por imprevistos, só no final de 2013, sentamos, conversamos, fomos pra um barzinho e terminamos a noite numa vibe tão boa!
Adoro ver meus amores, mesmo que pela internet, se apaixonando, namorando, casando, tendo filhos, viajando, realizando sonhos e sendo cada dia mais felizes.
Na MSC pelo fato de ser um navio maior, não eram tantos os amigos em si, mas os que criados lá dentro, assim como na Ibero, faço questão de manter contato... Quero viajar nas férias e ir ver a Lu em Curitiba, quero encontrar a Helena de novo e de novo e de novo. Nos encontramos por acaso um belo dia em Ilhabela, Búzios, sei lá onde, nem me lembro e nem me importo, porque o que valeu foi o momento: passar a tarde jogando conversa fora foi ótimo!
Quero dizer com isso, que eu sou sentimental e me apego facilmente a não só o que desperta o meu desejo, mas ao que desperta uma luzinha no meu coração.
Um abraço verdadeiro depois de um dia terrível, uma ceia de Natal improvisada depois de uma péssima noite de gritos e grosserias, uma cerveja no final da noite pra desestressar, ou aquele balde de gelo esperando você sair as duas da manhã fazem toda a diferença aqui, podem ter certeza.
Tudo isso me veio a cabeça escrever, depois de mais uma grande perda nesse contrato, no navio, mas um ganho imenso na minha vida.
Hoje depois de muitos meses a bordo, a Lu foi embora e isso me pegou muito de surpresa, afinal, ninguém esperava por isso.
É tão ruim acordar amanhã pela manhã e saber que não vou ouvir ela me dizendo bom dia e dizendo pra eu ter uma vibe positiva e parar de reclamar de tudo, que no final da noite eu não vou encher o saco dela pra subir no bar, mesmo nós estando acabados... Fiquei triste, sério.
Ela não é a primera a ir, não será a última, e eu posso ser o próximo também...
Mas do mesmo jeito que eu não quero perder contato e ver e rever ela por ai, quero ver muita gente caso eu vá embora, marcar mesmo que uma vez no ano de encontrar aqueles que me fazem bem, sabe deus onde, mas onde nos sintamos a mesma vibe daqui.
Fecho esse post dizendo que seja quando eu for embora, já valeu a pena... só pelos novos amigos que ganhei e que valem mais do que qualquer salário ou lugar no mundo.

Câmbio, desligo.




sábado, 17 de janeiro de 2015

Porque lá...


Venhamos e convenhamos que sempre que reembarcamos ou embarcarmos em uma nova companhia de cruzeiros, vamos comparar tudo e mais um pouco de como era na antiga e na nova... Afinal, a grama do vizinho sempre sempre vai ser mais verde, ou não.
Recapitulando: eu comecei essa vida maluca numa companhia pequena (comprada por uma grande, porém, pequena), depois migrei para uma grande companhia e senti uma diferença gigantesca: a vida social era menor, o trabalho maior, os navios maiores e o luxo consequentemente também. 
Hoje estou na terceira companhia e obviamente como todas as vezes, rolou e continua rolando os comparativos.
Lá eu tinha poucas horas de descanço, aqui eu tenho mais, lá eu tinha day off uma vez por semana, aqui não tenho, aqui o crew bar toda música todos os dias e não tem limite nas bebidas, lá era silencioso, era a área de fumantes e podia-se beber um numero limitado de bebida alcoólica.
Enfim, deu pra entender que sempre muda, né? 
Pensando sobre isso, cheguei a conclusão de que não adianta ficar comparando uma coisa a outra, porque sempre vão ter os lados bons e os lados ruins.
Desde que cheguei nesse navio, esse é o primeiro texto que escrevo e posto aqui no blog.
Pensei inumeras vezes sobre o que escrever, assim como fomos "proibidos" de falar sobre como é a nossa vida por aqui para quaisquer meios de comunicação, devido à depoimentos que comprometeram a companhia.
Porém, todavia, entretando, eu não vejo como eu possa comprometer alguém, dizendo bem de algo.
Cheguei aqui achando tudo muito diferente, normal! Navio "novo", porém antigo, a chefia de todas as nacionalidades, o que não era normal na outra companhia, onde eram todos italianos, por a companhia ser italiana.
Já cheguei conhecendo uma meia dúzia de gatos pingados, que já haviam trabalhado comigo anteriormente na Ibero e na MSC, e sendo assim, não caí tão de paraquedas assim.
Os já conhecidos me apresentaram pessoas novas e muitos dos que eu não fui com a cara ou mal falava nos primeiros dias, se tornaram amigos incríveis e que eu quero levar pra sempre (isso é muito incrível a bordo).
Logo que chegamos, fizemos uns cruzeiros pela Europa e já entramos em Dry Doc (quando o navio para em uma doca seca para manutenção e fica durante uns dias) em Cadiz (INCRIVELMENTE LINDA COMO SEMPRE) e viemos então pro Brasil: o primeiro navio a chegar e o último a sair da temporada.
Muita coisa já aconteceu por aqui. Muita gente chegou, foi embora, brigou, beijou, namorou, terminou... Vida a bordo!
Eu por minha vez, estou completando quase quatro meses de contrato e já passei por bons bocados.
Como já disse antes, fomos "proibidos" de falar da nossa vida, mas ninguém vai vir aqui ler (e se vier, não me interessa), sendo assim, vamos lá...
Logo que cheguei fui elogiado por alguns Head Waiters (os Supervisores, os Capitan Station na MSC) e então achei que tudo seria lindo... Sonho meu...
A Pullmantur tem um esquema de advertencias chamado "papelito" e eles são dados por razões ridículas até.. Tenho uns que são de chorar de rir, porém por ter de atraso, já levei meu segundo Warning escrito e estou com a corda no pescoço.
Os contratos aqui normalmente seriam para ser de 6 meses, mas o meu, porque sou lindo e tenho olhos azuis (só que não) está com previsão de término para 6 de Junho (quase 9 meses) e assim sendo, talvez eu dure até lá, talvez não, estou deixando na mão do destino.
Queria falar sobre milhares de coisas, mas nesse momento, sem sono na cabine as 3h da manhã, não me vem nada a cabeça.
Fico por aqui, mas volto a qualquer momento, com textos, fotos ou vídeos, o que der vontade.


Câmbio, desligo.